Nas DAOs, as regras são feitas por meio de smart contracts e tokens de governança, que fazem com que o investidor tenha participação ativa
DAO é sigla para Decentralized Autonomous Organization ou Organização Autônoma Descentralizada, termo que designa uma entidade governada por uma comunidade online cujas regras são definidas através de contratos inteligentes, registrados na blockchain.
Uma organização autônoma descentralizada, ou DAO, é uma forma de organização ou empresa baseada em blockchain que geralmente é governada por um token. Qualquer pessoa que compre e detenha esses tokens, chamados tokens de governança, ganha a capacidade de votar em assuntos importantes diretamente relacionados à DAO.
Em vez de usarem estruturas corporativas tradicionais para coordenar os esforços e recursos para alcançar objetivos comuns, DAOs usam normalmente contratos inteligentes, programas de computador auto-executáveis que realizam funções específicas quando certas condições são atendidas.
A Ethereum (ETH) é a maior plataforma de contratos inteligentes e, por isso, também a que hospeda a maior quantidade de projetos de DAOs. Muitos consideram as DAOs uma das ideias mais nobres decorrentes do Ethereum.
Defensores do conceito afirmam que uma organização com controle descentralizado é promissora. No entanto, o primeiro experimento desse tipo foi um desastre. Apelidada de “The DAO”, a primeira DAO do mundo foi criada em 2016 e acabou sendo um fracasso de US$ 50 milhões devido a uma vulnerabilidade técnica.
Porém, experiências que vieram depois, com destaque para a MakerDAO, mostraram que a ideia pode ser colocada em prática.
Como funciona uma DAO
Vamos fazer uma analogia como um carro sem condutor.
Imagine isso: um carro sem motorista circula em um modo de compartilhamento de viagens, essencialmente como um Uber autônomo. Devido à sua programação inicial, o carro sabe exatamente o que fazer, dadas as variáveis com as quais precisa lidar. Encontra passageiros, transporta-os e aceita pagamentos pelos seus serviços de transporte.
Depois de deixar alguém, o carro usa seus lucros para uma viagem a uma estação de recarga elétrica, usando Ethereum (ETH) para pagar pela eletricidade.
Este carro é apenas um em uma frota de veículos de propriedade de uma DAO. À medida que os carros ganham ETH, o dinheiro volta para os acionistas que investiram no projeto.
Esse exemplo teórico é um caso de uso possível para uma DAO, uma ideia que começou a ganhar força na comunidade de criptomoedas pouco depois do lançamento do Bitcoin (BTC), em 2009.
Por que administrar uma empresa com código através de um contrato inteligente?
Uma vantagem inerente das DAOs, argumentam os defensores, é que elas permitem a construção de organizações mais justas do que as gerenciadas por humanos.
A maioria das empresas tem líderes que às vezes tomam decisões unilaterais que afetam toda a companhia. A DAO tornaria esse tipo de tomada de decisão impossível, já que as partes interessadas (ou seja, os investidores da empresa) têm um controle mais direto sobre como a companhia deve operar.
Nas DAOs, as regras que ditam o andamento dos negócios são codificadas em contratos inteligentes que podem ser programados para realizar determinadas tarefas somente quando determinadas condições forem atendidas.
Esses contratos inteligentes podem ser programados para executar automaticamente, por exemplo, a retirada de dinheiro dos cofres da empresa para pagar investidores ou para financiar um projeto aprovado pela comunidade.
Participantes também podem votar para adicionar novas regras, alterá-las ou expulsar um membro.
Diante dessa integração com contratos inteligentes, as DAOs podem ser caracterizadas como:
– Sem hierarquia: Muitas vezes não há gerenciamento hierárquico. As partes interessadas geralmente tomam decisões juntas, em vez de líderes ou gerentes.
– Transparentes: O código é aberto, o que significa que qualquer pessoa pode vê-lo. Na blockchain, qualquer pessoa pode percorrer o histórico para ver como as decisões foram tomadas. Todas as informações registradas na blockchain são públicas e imutáveis.
– De acesso aberto: Qualquer pessoa com acesso à Internet pode ter tokens de uma DAO, comprá-los para garantir poder de voto e decisão dentro de uma DAO.
– Pró democracia: Os investidores podem alterar as regras de uma DAO votando em novas propostas. Não é possível intervir sem ser investidor.
– Compatível com o mundo real: Uma DAO poderia até teoricamente contratar profissionais externos, já que ainda existem tarefas que apenas humanos podem fazer. Por exemplo, o carro sem motorista na DAO descrita acima pode contratar automaticamente um mecânico, com base em sensores que informam a DAO quando ocorrem danos no veículo.
Quais são os riscos de DAOs?
Uma das primeiras tentativas de criar uma organização, chamada de “The DAO”, foi lançada em 2016, mas falhou em questão de meses por conta de um bug no código que permitia a um explorador roubar os tokens da organização.
Usuários então observaram que um invasor misterioso estava drenando lentamente os recursos da DAO, mas não puderam fazer nada para detê-lo. Tecnicamente, o hacker estava seguindo as regras descritas no código –esse sim, continha
falhas.
Para resolver o problema, os desenvolvedores do Ethereum, que hospedava o projeto, tomaram uma decisão drástica: interferir na rede e reverter a blockchain para o ponto antes da criação da DAO, efetivamente apagando o projeto. Como resultado, o processo criou o Ethereum que conhecemos hoje, além da versão derivada Ethereum Classic.
A imutabilidade da blockchain, que é uma das fortalezas das DAOs, portanto, acaba sendo também uma de suas fraquezas. Conforme mostrado com o caso da The DAO, é difícil mudar as regras de base da DAO depois de implantadas na blockchain Ethereum.
A mesma estrutura que impede uma pessoa ou entidade de alterar a organização sem o consenso da comunidade também pode causar problemas, e o principal deles é que quaisquer lacunas na estrutura não são facilmente fechadas. Por isso, uma DAO pode estar suscetível a ataques.