Depois que a Dogecoin ultrapassou a Bitcoin em moeda virtual com mais transações no mundo, talvez você tenha pensado em como poderia criar a sua. Ok, não é uma tarefa fácil, e talvez seja necessário muito conhecimento matemático para se criar uma moeda criptografada, mas depois que uma moeda baseada em um meme virou dinheiro de verdade, muitos estudantes de Matemática ou Ciência da Computação devem ter se perguntado como poderiam copiar a ideia.
Pensando nisso, a Fast Co. Labs publicou algumas dicas para aspirantes a milionários do mundo digital, e elas mostram que o trabalho de criar uma moeda virtual vai muito além da programação:
1- Use a comunidade para alimentar sua moeda
Para Chris Ellis, ativista da Feathercoin, se você pensa em começar o seu projeto de moeda virtual com a parte da programação, você já começou errado: "O primeiro passo é encontrar uma comunidade e construir uma moeda para eles ao invés de criar uma moeda e esperar que todo mundo apareça".
Ele exemplifica com sua própria experiência, quando, junto de Peter Bushnell, integrou o time de ativistas criadores da Feathercoin. "Nós éramos um grupo de entusiastas por criptografia, alguns novos no assunto, mas que se sentiam alienados dos espaços para isso". Assim, eles criaram em conjunto uma moeda nova, e hoje lutam para que ela seja reconhecida no mercado (atualmente, cada Feathercoin vale US$0,18, ou R$0,42).
Nesse caso, a comunidade - o grupo de entusiastas em criptografia - é que foi capaz de legitimar a moeda. E porque eles, usuários, estavam dispostos a pagar dinheiro por ela é que ela foi capaz de valer alguma coisa. Lembre-se: uma moeda virtual só vale dinheiro se alguém acreditar na sua legitimidade.
2- Codifique a longo prazo
Surpreendentemente, todos os desenvolvedores de moedas virtuais dizem que a programação é a parte menos demorada do processo. Isso porque praticamente todos usam o código da Bitcoin e da Litecoin, que é aberto e está disponível online.
De acordo com Kolin Evans, desenvolvedor da Quark, pode levar um bom tempo se você resolver incluir códigos próprios na sua moeda. "Na parte do código os passos mais difíceis estão relacionados com o quão complexo você planeja que sejam os parâmetros individuais do blockchain [a maneira como se minera uma moeda virtual]". Assim, se você deseja criar novos algoritmos para a sua moeda, pode levar meses para chegar a um resultado. Mas se você simplesmente copiar o código da Bitcoin e da Litecoin, Evans diz que pode levar "literalmente 30 minutos" para criar a sua própria moeda virtual.
No entanto, o que muitos criadores de moedas falidas da internet deixaram de perceber é que, para que ela dure, é preciso que o time de desenvolvedores esteja comprometido com corrigir falhas e manter a segurança da moeda. "Você tem um dever na parte de desenvolvimento no que se refere a consertar bugs e manter a promessa feita no almoço, mas você também tem o dever de ensinar as pessoas sobre os riscos e dar a elas o que elas precisam para manter seu dinheiro seguro", diz Ellis, da Feathercoin. Se você não puder dar esse tipo de garantia, ninguém vai usar sua moeda por muito tempo, e logo ninguém mais vai estar minerando ela.
3- Traga mineradores à bordo
Depois de desenvolver a sua moeda virtual você precisa espalhar a ideia dela por aí para que as pessoas comecem a minerá-la. Assim, com alguma sorte, ela pode acabar conquistando usuários e ganhando valor no olhar do mercado. "Uma boa forma de começar, e já é metade do caminho, envolve construir confiança, expressar sua visão e intenções aos mineradores, que têm o hardware que você precisa, e trazê-los à bordo para essa oportunidade", explica Ellis.
Não adianta tentar vender o seu peixe como o melhor da feira e sair mentindo, você precisa ser honesto e conquistar as pessoas para o seu lado. Considerando que quem alimenta uma moeda virtual são as pessoas que a mineram, é preciso conquistar a confiança de quem está disposto a isso.
4- Conheça os seus comerciantes
Depois de criar a sua moeda, trazer mineradores e de ter usuários com ela na carteira, o próximo passo é convencer comerciantes de que esse pedaço de código realmente vale alguma coisa física, assim como dinheiro de verdade. Obviamente que isso não é uma tarefa fácil, e requer um grande trabalho em adquirir confiança.
"Requer muita administração e tempo para trabalhar o que você realmente acredita. As pessoas irão comprar as suas ideias muito mais do que as suas ações, então assim que você se sentir confiante você tem que começar a falar sobre a sua moeda para amigos, comerciantes, fóruns da Internet e mídias sociais", explica Ellis.
Peter Otterbach, criador da Coino, concorda: "Para começar a vender você precisa achar o seu público-alvo exato. Primeiro você pode começar com fóruns de criptografia porque lá as pessoas sabem sobre moedas e você pode ver as suas primeiras reações. Depois fica mais difícil. Você tem que convencer pessoas que nem sabem o que é uma moeda virtual, então você tem que fazê-la ser aceita como uma opção de pagamento em lojas virtuais para chamar atenção".
Para Ellis, convencer comerciantes é o mesmo de convencer mineradores, é uma questão de entender pontos de vista. "Grupo diferente, mesmas regras. A diferença é que mineradores têm um sentimento especulativo e comerciantes são conservadores". Ele diz que comerciantes possuem três objetivos: fazer dinheiro, economizar dinheiro e melhorar sua imagem. "Se você conseguir trazê-los como clientes e aumentar suas vendas enquanto diminui as taxas de pagamento, é apenas uma questão de persistência e de tornar fácil o acesso deles à moeda".
5- Aceitação mundial não é um passo
O próximo passo da sua moeda virtual é conquistar o mundo. Bem, considerando que nenhum tipo de dinheiro conseguiu isso em cinco mil anos, é muito difícil que uma moeda virtual o faça.
A dominação do mercado mundial "não precisa ser um objetivo", diz Ellis. "Moedas podem ser locais, de fato nós pensamos na Feathercoin como uma moeda local que pode servir ao mercado mundial".
E aí está a verdadeira natureza de uma boa moeda virtual: um dinheiro local para certos bairros, eventos, lojas e grupos de pessoas que estão construídos em volta de uma comunidade de consumidores semelhantes que possam usá-lo de forma fácil, rápida e livre para adquirir bens e serviços de forma segura. E isso tudo sem precisar de bancos centrais ou mercados maiores para lhes dizer o que um item aleatório, seja uma moeda de cobre ou uma nota de plástico, vale em termos de produtos.
De fato, em um mercado de moedas virtuais que se limitam a certos bairros ou grupos de pessoas, não é preciso que uma só moeda vença. Há espaço para todas elas.